Bicho Terra anima o Carnaval de São Luís e arrasta multidões com alegria e celebrando a vida

 

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Personagens do Bicho, os criadores Godão e Bulcão , os cantores Inácio e Brandão e multidão sendo arrastada pelo grupo

Já era uma verdade absoluta apontar o Carnaval de São Luís como “o terceiro melhor do Brasil”. E medição e comparações à parte, nenhum argumento tem o poder de negar essa verdade quando é lembrado que a magia carnavalesca da hoje Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade é feita pelo peso rítmico dos blocos tradicionais, pela imagem e o andar desengonçado dos fofões de máscaras horrendas e bonequinhas nas mãos, pelo batuque refinado do Fuzileiros da Fuzarca, pelas tribos de índio, enfim, por grupos carnavalescos ímpares, não encontrados em nenhuma outra região do país do Carnaval. Essa originalidade incontestável manifestada no reinado de Momo em São Luís ganhou força e se consolidou definitivamente com a explosão de alegria trazida para as ruas de São Luís, especialmente as da Madre Deus, com a chegada espetacular do Bicho Terra, uma das três óperas de céu aberto criadas, alimentadas e já eternizadas pela Companhia Barrica de Teatro de Rua e que neste reinado de Momo completa um quarto de século de feliz existência.

Nada se compara ao Bicho Terra no embalo que agita milhares de foliões por onde passa. Seja no Largo do Caroçudo e suas imediações, seja no Circuito Deodoro/Madre Deus ou ainda no palco do Ceprama ou também em muitos outros espaços abertos e fechados, o Bicho Terra arrasta multidões numa alegria explosiva e incontida e leva plateias ao êxtase. Seus personagens, vestidos de fibras coloridas e lembrando entes da nossa rica fauna, entre eles o próprio homem, são saudados, aplaudidos e em certa medida reverenciados pelos milhares de alegres e fiéis seguidores nas noites do reinado momesco na Madre Deus ou fora dela. Dão-lhes vida e graça artistas identificados com a originalidade cultural do bloco e por isso, quando se entregam ao bailado ao mesmo tempo frenético e elegante do Bicho, levam aos foliões mais do que uma simples animação carnavalesca, pois seu canto e sua dança contagiam mesmo quem se imagina apenas um espectador.

Onde, além das marchinhas tradicionais do Carnaval brasileiro do tipo “Olha a cabeleira dom Zezé”, multidões entram em êxtase quando ouvem “Enlouqueço amor, essa menina tem cheirinho de praia, essa menina tem cheirinho de praia. Eu não consigo me controlar, esse ciúme vai às raias da loucura. Quando ela passa com graça, fazendo pirraça, e a turma da praça fazendo fiufiu, fiufiu e dizendo: é gostosa, é gostosa, parece um avião, meu coração vai explodir…”, marchinha nascida da genial e produtiva parceria de Zé Pereira Godão e Luis Bulcão? E quem consegue manter-se  parado ao ouvir “Costela de Adão”, “Vou passear”, “Doidinha”, “Trem do Bicho”, “Beija-Flor”, “Chamego”, “Canguru” e muitas outras do seu repertório nas vozes de Inácio e Brandão, imortalizadas no cancioneiro carnavalesco? O Bicho anima o folião de qualquer gênero ou idade com uma poesia limpa, pura, que é leve, mesmo nos trocadilhos e duplo-sentidos maliciosos comuns às letras momescas, e por isso cativa multidões e tempera a folia com insuperáveis ingredientes poéticos e melódicos que tornam ímpar a música que move o folguedo.

Se fosse apenas um bloco carnavalesco como tantos outros, o Bicho Terra já seria um grupo especial, diferenciado e que se imortalizaria pela contribuição que dá a todos os aspectos que envolvem o Carnaval. Mas o Bicho é muito mais, principalmente pelo fato de que sua existência é inspirada na consciência cidadã contemporânea, pois é ao mesmo tempo um grito de protesto e de alerta relacionado com a vida em todos os seus vieses. Poucos movimentos preservacionistas conseguem clamar por mais cuidados com a vida no planeta com mais eficiência do que o Bicho Terra. O grupo atua de maneira politicamente correta, sem o falatório cansativo e sem consequência dos ecochatos e sem abrir mão da alegria.

Rebento caçula da Companhia Barrica de Teatro de Rua, fruto da genial invenção de Zé Pereira Godão e Luiz Bulcão fundada em 1985, o Bicho Terra nasceu no Carnaval de 1991 do século passado, trazendo para o reinado de Momo a alegria politicamente correta e encantada que o primogênito Boizinho Barrica trouxera para as festas juninas e a Natalina da Paixão acrescentara nas festas natalinas de São Luís. E não é exagero afirmar que depois do Bicho Terra com seus personagens de fibra, a sua música rica e contagiante interpretada pelas vozes mágicas e singulares de Inácio e Brandão, o Carnaval da São Luís de tantos encantos nunca mais foi o mesmo. E com uma vantagem excepcional: não disputou espaço com nenhuma outra manifestação carnavalesca, encaixando-se por inteiro no roteiro anual da folia, dando a ela mais melodia, mais poesia, mais emoção. E com o diferencial de que celebra a vida.

 

 

São Luís, 7 de Fevereiro de 2016.

 

 

 

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