Quem apostou que as declarações do ex-governador e atualmente deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) criticando enfaticamente a ação política do Governo e sugerindo mudanças nesse roteiro causariam reação bombástica por parte do Palácio dos Leões errou na aposta. Numa demonstração de equilíbrio e habilidade, o governador Flávio Dino (PCdoB) reafirmou os princípios que norteiam sua ação política, não deu resposta direta ao aliado insatisfeito e passou a impresso de que encara esses arroubos com naturalidade. Com isso, o governador demonstra que não pretende alterar em nada o seu relacionamento com o ex-governador, que tem como aliado de primeira hora e parte importante do desenho político do seu projeto de poder. Pode até ter se incomodado com as declarações, mas elas não foram suficientes para tirar o assento de José Reinaldo na távola de aliados que comanda.
No campo político, a ação de Flávio Dino tem sido direta e sem rodeios. E baseada no princípio segundo o qual a política não pode contemplar os interesses de pessoas ou grupos com privilégio, mas para atender aos interesses da sociedade. Ele tem consciência de que parte dos seus aliados tem outra compreensão do que seja ação política e considera normal que eventualmente essas diferenças venham à tona. Mas acha que a sua linha de ação é correta e não vai alterá-la por conta de uma divergência, ainda que ela se manifeste de maneira estridente, como foi o reclame do deputado federal José Reinaldo, feito numa entrevista publicada domingo no Jornal Pequeno e que repercutiu fortemente no meio político.
A maneira equilibrada como o governador Flávio Dino reagiu à crítica contundente do ex-governador tem também um motivo politico muito forte: não faz sentido retaliar um aliado que eventualmente saiu na linha, principalmente num momento em que o mundo político de prepara para embates duros, relações complicadas, enfim, tempos muito difíceis, e com desdobramentos absolutamente imprevisíveis. O governador sabe que nesse contexto de tensões e indefinições manter uma base política harmonizada é fundamental, mesmo que alguns segmentos desse grupo não rezem todos os credos do missal governista. Isso não significa dizer que a grita do aliado não seja motivo de reflexão do governador sobre o que está sendo feito. Afinal, a definição mais clássica de política é que ela é a arte de harmonizar diferenças.
Por sua vez, o governador José Reinaldo é um político experiente, que já viveu as situações mais complicadas que a politica pode produzir – como romper com o ex-presidente José Sarney e comandar a campanha que resultou na vitória de Jackson Lago (PDT) sobre Roseana Sarney em 2006. Sabe que nas relações políticas existem limites que, se extrapolados, podem causar sérios lhe causar sérios danos. Daí a explicação para o pró e o contra da entrevista. Antes de bater na ação política do governo, fez questão de elogiar a ação de governo, avaliando que o governador acertou em cheio no seu primeiro ano de mandato. Se, de fato, estivesse interessado em fabricar uma crise ou em romper com Dino, José Reinaldo certamente evitaria aprovar o governo e se limitaria ao bombardeio na seara política.
Uma análise mais ampla do episódio certamente levará à conclusão de que, na verdade, o ex-governador José Reinaldo externou a insatisfação de aliados dele e do governador em relação à corrida eleitoral que se avizinha. E o motivo da insatisfação é o avanço do PCdoB na política municipal, comandado pelo presidente do partido e secretário de Articulação Política, Márcio Jerry, que cumpre orientação do governador Flávio Dino. Foi, portanto, um tremor de baixa escala e sem consequências.
PONTO & CONTRAPONTO
De volta e trabalhando
O governador Flávio Dino encontra-se de volta a São Luís desde terça-feira, mas não reassumiu o comando do Governo, o que só fará amanhã. Nestes dois dias, porém, o governador não continuou de férias, mas aproveitou para trabalhar de maneira mais informal. Realizou duas grandes reuniões informais com o secretariado, conversou com aliados políticos e tomou todas as providências necessárias para retornar à cadeira principal da máquina administrativa do Maranhão. Dino tomou todos os cuidados necessários para sua movimentação nesses três dias não interferissem na agenda de trabalho do governador em exercício, Carlos Brandão. Nesta sexta-feira, em meio a um grande ato com professores, o governador reassumirá o cargo, devendo anunciar novas ações. A volta ao Palácio dos Leões se dará sem maiores problema, a começar pelo fato de que o vice Carlos Brandão tem se comportado de acordo com a liturgia do cargo, ou seja, respondendo pelo governo sem avançar nas suas atribuições e prerrogativas.
Resposta dura
Deu muito o que falar a declaração do ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA e presidente do PSOL, advogado Luis Pedrosa, segundo a qual a calmaria no Complexo Penitenciário de Pedrinhas se deveria a um suposto acordo com as facções do crime organizado que disputam espaço na Ilha de São Luís. Pedrosa foi duramente criticado dentro e fora da esquerda e virou caixão de pancadas nas redes sociais. Já na terça-feira, ele tentou corrigir sua declaração, mas não conseguiu, porque elas foram muito claras na entrevista que concedeu ao jornalista Diego Emir. A pancada mais dura contra a declaração bombástica foi dada pelo próprio governador Flávio Dino, que usou twitter para afirmar que “a pacificação de Pedrinhas tirou o discurso dos adversários” – aí incluído, claro, o advogado Luis Pedrosa.
São Luís, 13 de Janeiro de 20161