Clio vermelho tira Braide da zona de conforto e dá munição para adversários

Eduardo Braide: tirado da
zona de conforto

Depois do quadro desenhado por pesquisa recente, que apontou o prefeito Eduardo Braide (PSD) numa posição absolutamente confortável na busca da reeleição, e mostrou o deputado federal Duarte Jr. (PSB), seu adversário mais próximo, numa situação sem nenhum conforto, mais de vinte pontos percentuais atrás, a disputa para a Prefeitura de São Luís entrou, repentinamente e sem aviso, numa zona de turbulência que pode produzir cenários os mais diversos. E independentemente de qual venha ser o desfecho causado pelos novos fatos, está escrito nas estrelas que a campanha, que já prometia uma carga anormal de embates, provavelmente ganhará uma dose extra de tensão.

A principal causa desse rascunho em curso é um automóvel Clio vermelho, com mais de um milhão de reais em espécie no seu porta-malas, estacionado e abandonado na Rua das Andirobas, no Renascença, com todos os traços relacionados a pessoas da família Braide, tudo muito próximo, portanto, ao prefeito Eduardo Braide.

Com a experiência e a postura racional que demonstra, o prefeito de São Luís reagiu ao fato demitindo os dois assessores da Prefeitura envolvidos no caso. Seus irmãos, o deputado Fernando Braide, que tinha o motorista do Clio vermelho como assessor, e o empresário Antônio Braide, cujo Clio vermelho foi estacionado em frente ao endereço comercial da sua esposa, estão muito próximos da patacoada milionária e reagiram com equilíbrio, acionando advogados e colocando-se à disposição das autoridades policiais. Independentemente de quem seja o dinheiro, de onde ele saiu e qual seria o seu destino, isso agora é tarefa da Polícia Civil, que está investigando e certamente colocará tudo em pratos limpos.

Num plano mais aberto, o fato real é que o Clio vermelho já virou tema de campanha, colocando o prefeito Eduardo Braide na defensiva. Não há como ignorar o fato de que o episódio, ainda sem esclarecimentos, respostas nem desdobramentos, será mote para o discurso de adversários. E pelo que circulou nos bastidores da política no final da semana, a campanha do candidato Duarte Jr. vai começar a fazer perguntas sobre o já nacionalmente famoso Clio vermelho e os pacotes de dinheiro vivo que transportava, estrelas da edição de sexta-feira (02) do Jornal Nacional, da Rede Globo.

O prefeito Eduardo Braide vai ter de reunir toda a sua serenidade e inteligência política para evitar que os estilhaços da granada milionária instalada no porta-malas do Clio vermelho atinjam a sua imagem de político hábil e gestor competente. Afinal, qualquer avaliação isenta certamente concluirá que o Clio vermelho e a dinheirama foram um presente de campanha colocado de graça na mesa do candidato Duarte Jr.. Além disso, se frágeis suspeitas de irregularidades deram origem a uma ruidosa CPI na Câmara Municipal, imagine-se o que os vereadores adversários do prefeito Eduardo Braide, liderados pelo tonitruante presidente da Câmara Municipal vereador Paulo Victor (PSB), farão em relação ao rico Clio vermelho.

A última semana indicou com clareza que, mesmo não sendo diretamente envolvido com o Clio vermelho, salvo pelo fato de que demitiu os dois personagens de proa do caso, o prefeito Eduardo Braide foi tirado, repentinamente, da zona de conforto em que vinha navegando e colocado no campo de batalha. E o seu faro político de raposa certamente o está aconselhando a usar toda cautela possível na montagem de uma estratégia que blinde sua candidatura e evite a corrosão que a imagem de dinheiro vivo e suspeito nesse tipo de caso costuma atingir candidaturas promissoras.

(Basta, para isso, lembrar o cruel e irremediável estrago causado pela imagem dos R$ 1,3 milhão encontrados no escritório da empresa Lunus, que detonou impiedosa e irreversivelmente a promissora pré-candidatura da então governadora Roseana Sarney à presidência da República em 2002).

O prefeito Eduardo Braide tem credibilidade suficiente para enfrentar o que vem por aí. A questão é como o problema vem e como repercutirá no eleitorado.

PONTO & CONTRAPONTO

PL reage e exige que o partido saia da base de Duarte Jr. na corrida à Prefeitura

Duarte Jr.: problemas
com o apoio do PL

Mesmo enxergando uma luz no fim do túnel pelo retrovisor do Clio vermelho e sua carga milionária, o candidato Duarte Jr. (PSB) não está correndo sem percalços em direção ao Palácio de la Ravardiére. O problema mais recente é a nova posição do PL em relação à sua candidatura.

O partido presidido pelo ex-deputado federal Waldemar Costa Neto, mas tutelado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e sua turma de direita radical, havia acertado apoiar a candidatura do parlamentar socialista em São Luís, tendo inclusive participado da megaconvenção que o confirmou.

Acontece que há duas semanas, pressionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a direção nacional do PL confirmou decisão anterior de proibir aliança do partido com agremiações de esquerda em qualquer situação e em qualquer lugar do País.

A decisão acertou em cheio a aliança eleitoral do PL com o candidato do PSB em São Luís e denunciada por bolsonaristas como uma afronta “aos princípios” do bolsonarismo, com o que Waldemar Costa Neto não concorda, mas não está disposto a medir força com Jair Bolsonaro dentro do partido.

O fato é que agora as lideranças do PL em São Luís, a começar pelo vereador Aldir Jr., que pode acabar apoiando a candidatura do prefeito Eduardo Braide ou, num lance imprevisto, a do deputado Yglésio Moyses (PRTB), neobolsonarista apaixonado.

O desfecho desse imbróglio ainda está a caminho.

Lula deve mediar fim da crise na base governista, mas Brandão não abre mão do seu poder

Lula da Silva deve atender a Felipe Camarão e
mediar entendimento com Carlos Brandão

É de expectativa na base governista em relação aos primeiros movimentos do governador Carlos Brandão (PSB) em relação à iniciativa do vice-governador Felipe Camarão (PT) de sugerir ao presidente Lula da Silva (PT) que atue como mediador para evitar o acirramento da tensão que pode levar a relação dos grupos ligados ao ministro Flávio Dino e ao chefe do Poder Executivo a um rompimento traumático e definitivo.

O encadeamento dos fatos que tencionaram a relação é óbvio. Começa ainda na montagem do novo Governo Brandão e passou por situações complicadas como a inacreditável ação que impediu a nomeação – na verdade retardou, porque ele vai ser nomeado mais cedo ou mais tarde – do advogado Flávio Costa para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e outros melindres típicos da mudança de poder.

A questão é que com habilidade o governador Carlos Brandão criou um grupo forte e com poder de fogo para isolar o grupo ligado ao ministro Flávio Dino, tendo nas mãos os cordéis do processo sucessório, que, com o risco de rompimento, ameaça seriamente a candidatura do vice-governador à sucessão em 2026.

Interessado em ter um petista no comando do Maranhão a partir de abril de 2026 e reeleito em outubro daquele ano, o presidente Lula da Silva certamente aceitará fazer a mediação. Mas com certeza sabendo que o governador Carlos Brandão dificilmente fará concessões que resultem no desmonte integral do seu projeto de poder.

São Luís, 04 de Julho de 2024.

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