Os partidos políticos e seus pré-candidatos entraram ontem no ano eleitoral, iniciando contagem regressiva para as eleições municipais marcadas para 06 de outubro de 2024. No Maranhão, as articulações para a definição de candidaturas, que já vinham movimentando o tabuleiro partidário, devem intensificar as conversas entre partidos em busca de composição. E nesse contexto, a disputa para a Prefeitura de São Luís vai ganhar um novo rumo com a desistência do vereador-presidente Paulo Victor (PSDB), mas dentro de um cenário praticamente definido no qual o prefeito Eduardo Braide (PSD) se move em busca da reeleição, tendo como concorrentes contra o deputado federal Duarte Jr. (PSB), o ex-prefeito Edivaldo Jr. (sem partido) e o deputado estadual Neto Evangelista (União). Devem se candidatar também os deputados estaduais Wellington do Curso (PSD) e Yglésio Moises (PSB) e ainda os representantes do PSOL e do PSTU. O deputado estadual Carlos Lula deve permanecer como “reserva técnica” do PSB.
As pesquisas realizadas até aqui mostram Eduardo Braide como franco favorito, em média com 10 pontos percentuais à frente do seu adversário mais próximo, Duarte Jr., que por sua vez vem mantendo o terceiro colocado, Edivaldo Jr., também a dez pontos percentuais atrás, que no último levantamento, apareceu com seis pontos à frente do quarto colocado, Neto Evangelista, que aparece tecnicamente empatado com Wellington do Curso. Esse ambiente deve ganhar uma movimentação nas próximas semanas, provavelmente em janeiro, com a entrada em cena de atores importantes, como o governador Carlos Brandão (PSB), o ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) – se não for para o Supremo Tribunal Federal -, o senador Weverton Rocha que vai decidir o rumo do PDT, e a senadora Eliziane Gama (PSD), que ainda não disse se apoiará ou não o candidato do seu partido, o prefeito Eduardo Braide.
O governador Carlos Brandão avisou que só vai tratar de candidatura a partir de janeiro. Mas nos bastidores da aliança governista já se sussurra que o caminho do chefe do Executivo deve ser o de apoiar a pré-candidatura de Duarte Jr., que já tem o apoio do ministro Flávio Dino e da senadora Ana Paula Lobato (PSB) – na hipótese de Flávio Dino ir para o Supremo ou continuar no Ministério da Justiça. Há fortes sinais de que o PT tende a apoiar o virtual candidato do PSB, o que significará o apoio do vice-governador Felipe Camarão (PT). O eventual apoio do PT a Duarte Jr. terá o aval da cúpula nacional do partido e do próprio presidente Lula da Silva (PT), que elogiou o desempenho do parlamentar socialista a favor do seu Governo na Câmara Federal. Se essa base política e partidária funcionar, Duarte Jr. tende a se fortalecer. Isso vai depender muito do seu trabalho pessoal de articulação.
Edivaldo Jr. e Neto Evangelista tendem a travar uma guerra pela terceira colocação, posição que pode levar o vencedor a brigar com Duarte Jr. pela condição de adversário de Eduardo Braide num eventual segundo turno. O ex-prefeito tem o imenso desafio de encontrar um partido e montar um grupo de aliados e tenta fazê-lo filiando-se ao PV, que faz parte de uma federação com o PCdoB e PT, o que parece improvável, apesar dos sorrisos que recebeu de alguns próceres desses partidos. Já o deputado, que tem partido forte e conta com o aval do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, trabalha para atrair o aval do Palácio dos Leões, segundo insinuou o deputado Roberto Costa (MDB).
Há quem acredite que os resultados dessas movimentações podem alterar o cenário da disputa desenhado até aqui pelas pesquisas, principalmente se o deputado federal Duarte Jr. se consolidar como candidato da aliança governista. Mas há também quem enxergue consistência na tendência de crescimento do prefeito Eduardo Braide, que assim pode reunir poder de fogo suficiente para se manter na liderança, encarar uma campanha dura e sair das urnas com o mandato renovado.
Vale lembrar que, antes das convenções partidárias para a escolha dos candidatos, da campanha eleitoral e da manifestação das urnas, São Luís viverá um Natal, um Carnaval e um São João.
PONTO & CONTRAPONTO
Luto: morre Antônio Carlos Lima, um ícone do Jornalismo do Maranhão
O jornalismo do Maranhão sofreu um duro golpe neste domingo ao ser surpreendido com a notícia da morte de um dos seus mais importantes quadros nos últimos 50 anos e um dos ícones da sua geração: Antônio Carlos Lima. Sua partida, aos 66 anos, ocorreu em Brasília, onde residia, depois de uma luta titânica contra um câncer no estômago, descoberto durante a recuperação de um problema cardíaco.
Natural de São Raimundo das Mangabeiras e tendo Barra do Corda como referência de vida, Antônio Carlos Lima graduou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão (1982) e abraçou a profissão com rara dedicação, motivado, principalmente por uma base cultural ampla e sólida, que o fez compreender, em patamar elevado, a importância da informação no mundo contemporâneo. Começou no jornal alternativo a Ilha, foi diretor do Jornal de Hoje, coordenou o Jornalismo da TV Difusora, entre outras ações profissionais.
A sua visão especial da comunicação jornalística foi construída e expressada no jornal O Estado do Maranhão, cujo comando assumiu em 1983, como diretor de Redação e com o desafio de modernizar um jornal que já buscava a renovação. Antônio Carlos Lima deu ao diário fundado por José Sarney e Bandeira Tribuzi uma feição e uma estrutura de jornal, com o ordenamento editorial possível dentro das condições que dispunha. E nessa arrumação inicial, colocou o jornal na modernidade ao criar dois espaços que se tornaram símbolos de O Estado e da imprensa do Maranhão: a coluna política “Estado Maior”, que escreveu por sete anos e que por mais de três décadas foi referência e leitura obrigatória dos segmentos na área política, e o caderno de cultura “Alternativo”, que se tornou a grande agenda cultural do Maranhão, tendo como marcas a Coluna PH e o espaço “Hoje é Dia de…” destinado a cronistas do naipe de José Chaga, Ubiratan Teixeira, Jomar Moraes e Ivã Sarney. Criou também a editoria de Política, implantada em 1984 pelo autor desta Coluna, que com ele trabalhou até 1990.
Sempre focado na boa informação e nas inovações editoriais, Antônio Carlos Lima permaneceu Diretor de Redação de O Estado até 1991, quando encerrou o ciclo do jornalismo impresso para se dedicar à comunicação institucional ao assumir a Secretaria de Comunicação no Governo Edison Lobão, onde realizou um trabalho inovador em matéria de assessoria de Imprensa, comunicação oficial, publicidade e propaganda. Ocupou o mesmo cargo em dois períodos dos quatro Governos de Roseana Sarney. Mudou-se para Brasília, de onde embarcou para o Chile como presidente do Centro de Estudos Brasileiros (CEB), órgão da Embaixada do Brasil naquele País, onde promoveu a cultura brasileira junto aos chilenos, principalmente nas universidades e centros culturais da pátria de Pablo Neruda.
Antônio Carlos Lima teve sua atuação jornalística reconhecida com o Prêmio Fenaj de Jornalismo em 1988, que venceu com a reportagem especial “Cuba: Dez Dias na Ilha que Abalou as Américas”. Recebeu várias outras manifestações de reconhecimento, como comendas, diplomas, placas e outras honrarias de diferentes instituições.
O preciosismo que dedicou ao Jornalismo, como editor, colunista, editorialista e, em especial, repórter, Antônio Carlos Lima usou, com mais esmero ainda, na literatura, como escritor dedicado especialmente à crônica, o que pode ser explicado pela proximidade do gênero com o Jornalismo. Publicou vários livros de crônicas, contos e uma reconhecida versão da história do Maranhão para crianças. Sua obra literária e a sua contribuição jornalística para a cultura maranhense, principalmente a criação do Caderno Alternativo de O Estado do Maranhão, justificaram plenamente a sua eleição para a Academia Maranhense de Letras, em 2011.
Em Tempo: O autor da Coluna se solidariza com familiares e amigos pela perda, e pessoalmente, lamenta profundamente a partida de um parceiro de trajetória profissional e de um dos baluartes do Jornalismo do Maranhão.
São Luís, 08 de Outubro de 2023.