“Ao Senado, nossa vontade é acompanhar o Flávio (Dino). Mas, a política é dinâmica. Lá na frente pode não haver espaço ou ambiente para uma aliança e, então, veremos o melhor caminho a seguir”. A declaração foi dada ontem pelo senador Weverton Rocha (PDT) em entrevista ao programa Abrindo o Verbo, da rádio Mirante AM, comandado por Geraldo Castro. Ele reafirmou sua pré-candidatura ao Governo do Estado, usou vários argumentos para justificar sua atitude de se lançar candidato, negou que seja responsável pelo racha na aliança articulada pelo governador Flávio Dino, e garantiu que “o foguete não tem marcha à ré”. Nas declarações sobre o abalo na base governista, o senador deixou claro que está cada dia mais distante do governador Flávio Dino, a quem rasgou elogios, mas agora sinalizando que o anunciado apoio à candidatura dele ao Senado já não é fato consumado e irreversível e poderá ser revisto. Ou seja, sob o argumento de que não rachou a base governista, o senador pedetista está desenhando com clareza o cenário para um rompimento.
Ao questionamento acerca do motivo de uma não composição para manter a aliança, como tentou o governador Flávio Dino, Weverton Rocha respondeu que a aliança foi inviabilizada “por diferenças políticas”, as quais não relacionou, deixando muitas interrogações no ar. Sobre não apoiar o vice-governador Carlos Brandão (PSDB a caminho do PSB), resumiu numa explicação surpreendente, sem levar em conta os vários pontos que envolvem a questão: “Não tenho nada contra o Carlos Brandão, mas ele não é do nosso campo político”. (É como se em 2006 o então governador José Reinaldo Tavares negasse apoio ao candidato Jackson Lago argumentando não ser ele do seu campo político).
Com a preocupação de demonstrar que tem sido correto na sua relação com o governador Flávio Dino, o senador Weverton Rocha lembrou que, a pedido de Flávio Dino, em 2014 o PDT retirou a candidatura do pedetista Márcio Honaiser a vice-governador, em favor do então deputado federal Carlos Brandão (PSDB). Mas preferiu não lembrar que nessa mesma negociação conseguiu de Flávio Dino e do próprio Carlos Brandão o compromisso de que os dois apoiariam sua candidatura ao Senado em 2018, o que foi cumprido fielmente pelo governador e pelo vice-governador. Na entrevista, Weverton Rocha admitiu que Flávio Dino foi decisivo na eleição dele para o Senado: “A grande vitória foi construída com ele. Ele liderou o grupo, o nosso partido e os outros que nos acompanharam. E toda essa articulação que temos feito antes da eleição foi sucesso dessa articulação que ele comandou”, disse.
Entrevistas como a de ontem ao programa comandado por Geraldo Castro é, na verdade, parte de uma ofensiva do senador Weverton Rocha para sair da inércia que o mantém estancado há meses na faixa dos 25% das intenções de voto, com pequenas variações para mais ou para menos. Mais ainda diante do avanço do vice-governador Carlos Brandão, que na pesquisa mais recente chegou a 17%. Na ponta do lápis, a vantagem de oito pontos é expressiva, mas a complicação vem do fato de que o pedetista estacionou, enquanto o ainda tucano está crescendo, o que transforma o segundo colocado numa ameaça real, que precisa ser urgentemente afastada por ele. Weverton Rocha nada tem de ingênuo e sabe muito bem que se já é um candidato forte antes do Carnaval, Carlos Brandão aumentará muito o seu poder de fogo em abril, quando começar a trabalhar no gabinete principal do Palácio dos Leões.
As declarações de ontem, principalmente as relacionadas diretamente ao governador Flávio Dino, que dependendo das circunstâncias poderá nem ter o seu apoio para o Senado, mostram que o senador Weverton Rocha, que é politicamente arrojado, parece disposto a jogar todas as suas fichas numa espécie de “tudo ou nada”.
PONTO & CONTRAPONTO
Eliziane Gama: efeméride que valeu a pena
Pode ter chegado ao fim a efêmera participação da senadora Eliziane Gama (Cidadania) na fechadíssima e excludente seara da corrida presidencial. Ela foi citada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB) que foi como possível candidata a vice-presidente da República na chapa do da provável federação PSDB/Cidadania. A sugestão do nome dela foi bem recebida, fazendo com que Eliziane Gama e alguns aliados comemorassem. Afinal, não é todo dia que uma senadora de um estado pobre é catapultada para o epicentro do debate político nacional, como ocorre agora com a maranhense.
Mas em política nem sempre o que é gestado se sustenta. Ontem, por exemplo, o mesmo governador João Doria que há duas semanas posou simpático ao lado de Eliziane Gama, apresentando-a como um nome forte ser companheira de chapa, apresentou ontem a possibilidade de vir a ter como vice ninguém menos que a senadora Simone Tebet, que se lançara candidata a presidente pelo MDB, como sua provável companheira de chapa dentro de uma improvável federação do PSDB com o MDB
Não há sinais firmes de que o PSDB venha a compor federação com o Cidadania ou com o MDB. Mas o fato é que o zumzum que envolveu a senadora Simone Tebet reduziu drasticamente as chances da senadora Eliziane Gama. Por outro lado, o curto período sob os holofotes gerado pela possibilidade de ela vir a ser candidata a vice-presidente serviu para que a senadora maranhense turbinasse nacionalmente a sua ascensão ao posto de líder da Bancada Feminina no Senado
Senador diz que filho de professor querer ser governador incomoda
Do senador Weverton Rocha, ontem, durante a entrevista à rádio Mirante AM:
“Já tivemos até um presidente metalúrgico, mas aqui no Maranhão, para muitos é um incômodo, o filho de uma professora ser governador. Devem pensar: alguém que não é da nossa casta”.
Não é bem assim. O governador Luiz Rocha teve origem extremamente humilde, foi morador da antiga e mau cuidada Casa do Estudante, no Lira, e chegou ao Palácio dos Leões com seus próprios pés. O governador Epitácio Cafeteira nasceu de família humilde na Paraíba e foi bancário antes de ser político. O governador João Alberto nasceu de uma família de servidores públicos. Edison Lobão também saiu de uma família humilde. O governador José Reinaldo é filho de servidores públicos.
Outros exemplos reforçam que muitos governadores do Maranhão não saíram de famílias ricas e influentes, que ele chama de castas.
São Luís, 22 de Fevereiro de 2022.