Posicionamento político e ideológico é uma coisa, e relacionamento institucional é outra. A primeira é opcional, fruto do livre arbítrio político do cidadão, esteja ele ou não no exercício de um mandato eletivo, seja como parlamentar, seja como executivo. O governador Flávio Dino (PCdoB) demonstrou ontem, mais uma vez, que a noção exata do que é relação política e relação institucional ao participar ontem, na condição de presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, de reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), presidida pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB). Uma das mais destacadas vozes da Oposição no Brasil atual, tanto que é tratado como inimigo pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o governador do Maranhão tem dado seguidas demonstrações de que sabe separar o joio do trigo sem arredar um só milímetro da sua posição política. A segurança e a desenvoltura com que se relaciona institucionalmente com próceres do Governo Bolsonaro é reconhecida e bem aceita por eles próprios. A reunião de ontem demonstrou a postura institucional do governador e do vice-presidente.
Na reunião, Flávio Dino analisou a grave situação da Amazônia nesse momento, com o aumento das queimadas, a expansão de garimpos, o avanço da grilagem e a extração ilegal de madeira em proporções gigantescas, tornando o Brasil uma espécie de pária mundial no campo ambiental. Com interlocução fácil com o vice-presidente Hamilton Mourão, que apesar de pertencer à direita conservadora, não dispensa nem dificulta o diálogo com líderes da estatura do governador do Maranhão. Tanto que os dois dialogaram franca e longamente sobre o momento pelo qual a região passa, tendo o governador do Maranhão feito sugestões ao vice-presidente das República, o que provavelmente não aconteceria se o interlocutor fosse o presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, que prefere o confronto ao diálogo.
Desde a instalação do Governo Bolsonaro, o governador Flávio Dino tem feito um trabalho intenso e complexo no sentido de manter uma boa relação com a habitantes do momento do Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios. Já se avistou várias vezes com o vice-presidente Hamilton Mourão, antes de ele assumir o Conselho da Amazônia Legal, tendo inclusive no Palácio dos Leões. Ali também recebeu o general Santos Cruz, quando ele comandava a Secretaria de Governo da Presidência da República, e o ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles), que esteve rapidamente no Palácio dos Leões antes da pandemia. Da equipe do atual Governo Federal, o governador já tratou com todos os ministros da Saúde (Luiz Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga) com os dois ministros da Educação (Ricardo Vélez e Milton Ribeiro), da Infraestrutura (Tarcísio de Freitas), da Economia (Paulo Guedes), mas sempre de maneira altiva, respeitando a institucionalidade.
Em 2016, ele recebeu o então comandante da Marinha, comandante de esquadra Eduardo Bacelar, com quem tratou do projeto de instalar uma base da armada para sediar um novo Distrito Naval – projeto infelizmente suspenso por causa da pandemia. E no início do ano passado recebeu em audiência o então comandante militar da Amazônia, atual comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, que veio ao Maranhão entregar armas adquirida pelo Governo do Estado para a Polícia Militar do Maranhão. E por conta do Centro de Lançamento de Alcântara, recebe com frequência oficiais de alta patente da Aeronáutica.
A má vontade assumida do presidente Jair Bolsonaro em relação a tudo o que diz respeito ao Governo do Maranhão não desanimaram o governador Flávio Dino no que diz respeito a manter um relacionamento institucional com os ocupantes da esplanada dos Ministérios. Ele entende que por diferenças políticas os dirigentes públicos não podem comprometer os interesses da coletividade, por mais tensa e esticada que seja a relação política.
PONTO & CONTRAPONTO
Dino dá mais um passo na direção do PSB
O governador Flávio Dino deu ontem mais um passo no sentido de migrar para o PSB. Após reunião do Conselho da Amazônia, da qual participou como presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, ele esteve na sede do PSB, onde conversou com o presidente da legenda, Carlos Siqueira, sobre o quadro político nacional e, claro, o andamento das conversas sobre a fusão do partido com o PCdoB para a formação do Socialistas, ou, na impossibilidade da fusão, sua migração para a legenda.
É fato que, sem um reforço extraordinário ou se incorporando a uma legenda mais forte, como o PSB, por exemplo, dificilmente o PCdoB sobreviverá à cláusula de barreira nas eleições de 2022. Os motivos vão desde o símbolo do partido, a foice e o martelo, que já não identificam as massas camponesas e o operariado urbano, até a sua fragilização a cada eleição. A força do partido no Maranhão por conta do prestígio do governador não é suficiente para mantê-lo de pé. Logo, Flávio Dino e seu grupo terão de resolver essa situação delicada até setembro.
Antes reticente em falar de mudança partidária, o governador do Maranhão já não esconde que se encontra na iminência de mudar de partido e que o caminho mais provável é o PSB. Há duas semanas, Flávio Dino fixou a data de 13 de Junho, dias de Santo Antônio, o Casamenteiro, como o momento do desfecho de sua situação partidária. A visita de ontem à sede do PSB pode ter sido a batida de martelo sobre sua migração.
Maioria ampla dos brasileiros que super-ricos pagando mais impostos
O Brasil tem ao seu dispor uma fonte que poderá render-lhe nada menos que R$ 292 milhões anuais em impostos: a adoção de uma política tributária na qual os multimilionários brasileiros paguem mais impostos. Isso dificilmente será adotado no governo do presidente Jair Bolsonaro, que se esforça para aliviar a carga tributária dessa turma que tem dinheiro de sobra. Mas um futuro Governo, se estiver sintonizado com a maioria verá que, hoje, nada menos que 84% dos brasileiros são a favor do aumento de impostos para os muito ricos, segundo pesquisa realizada recentemente pelo Datafolha em parceria com o instituto Oxfam Brasil.
O Maranhão abriga um número expressivo de milionários que se enquadram nesse perfil. O primeiro nome da lista é o empresário Wilson Mateus, que recentemente foi apontado pela prestigiosa revista Forbes, que monitora multimilionários em todo o planeta. Outros caixa-altas, que preferem esconder o jogo mantendo-se discretos, minimizando suas imensas fortunas. Mas se for acionado, o fisco saberá tranquilamente como e onde encontrá-los.
Em tempo: a Coluna registra com pesar a morte do jornalista e ex-deputado estadual Luiz Pedro de Oliveira, na noite de Terça-Feira (01).
São Luís, 03 de Junho de 2021.