A largada das tratativas para a definição de candidatos a governador, vice e senador no campo governista está prevista para Julho, e a batida de martelo sobre quem será o quê na disputa poderá acontecer em Dezembro. Esse rascunho de roteiro foi revelado ontem pelo governador Flávio Dino (PCdoB), em entrevista ao programa Bom Dia Mirante, da TV Mirante. Na entrevista, Flávio Dino confirmou que a definição deve se dar entre o senador Weverton Rocha (PDT) e o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos), que teriam se comprometido com ele no sentido de trabalhar pela unidade do grupo e por um discurso comum. Com essa programação, o governador dá tempo para que os interessados se articulem, de modo que estejam devidamente preparados para as intensas e cuidadosas conversas que ocorrerão ao longo do segundo semestre e que desaguarão na escolha do nome que liderará a aliança ou no lançamento de dois candidatos no mesmo campo, caso o compromisso de unidade não vingue. Os próximos quatro meses serão dedicados à guerra ao coronavírus.
O governador Flávio Dino sabe que tem pela frente uma equação política complicada para resolver. O campo que lidera está dividido em duas frentes com objetivo franco e aberto de chegar ao comando do Estado, uma liderada pelo senador Weverton Rocha, candidato a candidato inarredável a governador, e outra liderada pelo vice-governador Carlos Brandão, que também se movimenta claramente na mesma direção. O grau de determinação de ambos foi exposto nas eleições municipais e na eleição para o comando da Famem. Além disso, os dois, por meio de apoiadores engajados, travam uma guerra sem trégua nas redes sociais, na blogosfera e em programas de rádio. Flávio Dino tem evitado ao máximo interferir nessa relação conflituosa dentro da aliança partidária que mantém, sabe que o acirramento da disputa interna pode abrir brechas no seu campo que podem ser exploradas por adversários, mas não abre mão de que a definição seja o resultado de um processo negociado.
O governador mantém o domínio pleno da situação dentro da aliança governista e, por isso, tem noção clara de que dificilmente reunirá o senador e o vice-governador – que será governador a partir de abril do ano que vem – em um só projeto. Os dois desenhos de candidatura ganham linhas mais fortes e se consolidam a cada dia, evidenciando todos os indícios de que são irreversíveis. Mais do que isso, sem qualquer sinal de que o senador ou o futuro governador recue do propósito de disputar o comando do Estado do Maranhão.
O roteiro rascunhado pelo governador inclui a definição do seu próprio futuro. Ele trabalha com duas possibilidades, sendo a primeira a mais segura e mais provável, que é ser candidato a senador, e a segunda, possível, mas bem mais complexa, é a de entrar na disputa federal. A candidatura ao Senado tem também leves pontos a considerar. Se Weverton Rocha e Carlos Brandão não chegarem a um acordo e forem para o confronto, o PCdoB terá de compor com um deles, e no caso, como candidato a senador, Flávio Dino terá de apoiar o candidato ao qual o PCdoB se aliar. E como as duas candidaturas estarão no seu campo, terá de fazer uma complicada engenharia para não ter um aliado como concorrente. Há, porém, um consenso dentro da aliança governista: se Flávio Dino for candidato, ninguém se lançará ao Senado.
Se o ex-presidente Lula da Silva (PT) vier a ser candidato ao Palácio do Planalto, o governador é nome a ser considerado para ser candidato a vice, representando o PCdoB na chapa. Há ainda duas possibilidades, que já foram admitidas pelo próprio Flávio Dino: disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados para ajudar o PCdoB a eleger deputados federais e escapar da guilhotina da legislação partidária, e permanecer no Governo até o fim do mandato e depois voltar a dar aulas no Curso de Direito da UFMA. Ninguém duvida de que as duas últimas hipóteses estão definitivamente descartadas.
Como se vê no front político doméstico, o governador Flávio Dino tem muito o que ajustar até Dezembro, quando lhe restarão apenas três meses de Governo.
PONTO & CONTRAPONTO
Brandão surpreende, deixa o Republicanos e traz o PSDB de volta ao poder no Maranhão
O vice-governador Carlos Brandão protagonizou ontem, em Brasília, uma das mais surpreendentes reviravoltas ocorridas no cenário político maranhense nos últimos tempos. Quatro anos depois de ter sido obrigado a entregar o PSDB do Maranhão ao senador Roberto Rocha, ele deu a volta por cima e retornou ao ninho dos tucanos maranhenses, cujo comando reassumirá tão logo Roberto Rocha deixe a agremiação, para se filiar ao partido que vier a abrir as portas para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A refiliação do vice-governador ao PSDB aconteceu na sede do partido, tendo sua ficha sido abonada pelo presidente nacional do partido, deputado federal Bruno Araújo e pelo líder tucano na Câmara dos Deputados, Rodrigo de Castro.
A volta de Carlos Brandão ao comando do ninho no Estado confirma duas situações já previstas. A primeira é a surpreendente e inexplicável debacle partidária do senador Roberto Rocha, que deixará o partido pela segunda vez. E outra é o fato de que o PSDB volta à base de apoio do governador Flávio Dino, e pelo qual Carlos Brandão se elegeu vice-governador em 2014.
Carlos Brandão receberá um partido que quase desapareceu no Maranhão sob o comando do senador Roberto Rocha. Para se ter uma ideia clara disso, basta lembrar que, sob o comando de Carlos Brandão, o PSDB elegeu 28 prefeitos em 2016, ao passo que agora, sob o comando do senador Roberto Rocha, esse número foi drasticamente reduzido para quatro prefeitos.
Com a reviravolta, o PSDB dá a volta por cima e vai se preparar para assumir o Governo em abril do ano que vem, e seguir para as urnas tendo o Carlos Brandão, que será governador, como candidato à sucessão do governador Flávio Dino. Uma guinada e tanto para um partido que tenta sair do limbo no estado.
Hildo Rocha quer assumir o comando do MDB, mas sabe que é tarefa muito difícil
O deputado federal Hildo Rocha declarou recentemente que vai brigar para suceder ao ex-senador João Alberto no comando do MDB do Maranhão. Disse mais: se a ex-governadora Roseana Sarney não for candidata, ele ocupará a vaga de candidato do MDB ao Governo do Estado. E que não admite que o partido não faça oposição cerrada ao Governo Flávio Dino.
A Coluna sondou vozes do partido e todas disseram que, mesmo que octogenário, João Alberto não pretende deixar a presidência do partido, agora. Mas, se houver interessados no comando da legenda, é bom que saibam que o ex-senador se encontra em plena forma, e não parece disposto a deixar o posto – pelo menos até aqui – dando todas as pistas de que só pensará no assunto depois das eleições do ano que vem.
Mais do que isso, a tendência natural do ex-governador é clara no sentido de passar o bastão emedebista ao vice-presidente do MDB, deputado estadual Roberto Costa, que hoje, sob a liderança de João Alberto, comanda a máquina partidária.
Logo, tudo indica que o deputado federal Hildo Rocha vai enfrentar duras dificuldades se tornar líder do MDB do Maranhão. E se pretende mesmo comandar o partido, que inicie um amplo processo de conversas dentro do partido. Sabe que, caso parta para o confronto interno, corre enorme risco de perder até mesmo o que já conquistou em nome do partido.
São Luís, 12 de Março de 2021.