O convite do presidente estadual do PSB, Luciano Leitoa, prefeito de Timon, feito sexta-feira, para o governador Flávio Dino deixar o PCdoB e ingressar na agremiação socialista colocou o futuro partidário do líder maranhense na pauta do debate político que começa a ganhar intensidade visando as eleições gerais de 2022. O convite não é novo, foi feito pelo comando nacional do partido antes das eleições de 2018 e repetido em 2019, e agora ganha reforço. Até onde se sabe, Flávio Dino mantém a posição de não responder, preferindo se manifestar quando tiver de fazê-lo de maneira definitiva, para comunicar a migração para o arraial socialista ou a permanência na seara comunista. Inicialmente, a proposta era seu ingresso puro e simples no PSB, considerando que a situação do PCdoB é complicada, com o partido correndo o risco de desaparecer do mapa partidário brasileiro. Agora, o que corre nos bastidores é que estaria em curso uma articulação para a fusão das duas agremiações, dando origem a um poderoso partido de esquerda moderada já batizado de “Socialista”.
O governador Flávio Dino vive uma situação politicamente confortável, mas partidariamente complexa. Por motivos que vão desde o exaurimento do comunismo como ideologia, passando pelo símbolo da foice e o martelo, que atualmente pouco diz e nada representa como referência, até a visível desconexão do arcabouço ideológico, doutrinário e programático do partido com a realidade, o PCdoB já não comporta um quadro com as qualificações do governador maranhense. Mesmo conservando e pregando os fundamentos da esquerda democrática em sua ação política, é visível o esforço que Flávio Dino faz para lapidar e manter atualizado o discurso do PCdoB no contexto de uma sociedade politicamente dividida e na qual a esquerda radical sofre um processo implacável de raquitismo.
O governador é incontestavelmente o mais importante líder político do Maranhão na atualidade, tem horizonte largo no plano estadual – será senador se quiser, por exemplo – e vem ocupando bom espaço no cenário nacional, tanto por sua ação de Governo quanto pelas posições que vem defendendo como crítico e opositor ao Governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). E também como articulador de uma ampla frente com correntes de centro-direita, centro, centro-esquerda e esquerda democrática para enfrentar o bolsonarismo, que tem como base a direita conservadora e a extrema direita golpista. Nesse contexto ele poderá permanecer no cargo até o fim e voltar a dar aulas na UFMA, disputar vaga no Senado ou participar da corrida presidencial como candidato a vice-presidente numa chapa tendo o ex-presidente Lula da Silva (PT) na cabeça ou como candidato a presidente por uma frente partidária.
Em todas essas situações, o fator partido tem peso importante, e até mesmo decisivo. Sua permanência no PCdoB é, portanto, um fator limitador para que ele entre numa disputa majoritária nacional com alguma chance de sucesso. Mesmo se vier a disputar a única cadeira senatorial disponível em 22, o governador precisará de forte suporte partidário para fortalecer a chapa e eleger o seu sucessor, o que não é garantido se permanecer no PCdoB. Já se ingressar no PSB no bojo de uma fusão para a criação do “Socialista”, harmonizará e fortalecerá o seu campo político no Maranhão, evitando que a sua sucessão seja disputada numa guerra fratricida entre aliados.
A julgar pelo movimento que construiu e com o qual assumiu as rédeas do Poder no Maranhão, o governador Flávio Dino sabe que o tabuleiro partidário é campo no qual tem de lutar para viabilizar seus próximos passos, sabe também que ele é movediço e traiçoeiro. Isso quer dizer que não pode dar passo em falso nem se expor ao risco de comprometer a base político-partidária que articulou, apesar dos movimentos de contramão de alguns aliados. O convite do presidente estadual do PSB é saudável e oportuno, mas a cautela, uma das suas melhores amigas, recomenda que Flávio Dino pense bem para tomar o rumo certo.
PONTO & CONTRAPONTO
Apoiadores aguardam definição de Eduardo Braide na formação do secretariado
Uma grande expectativa tomou conta dos bastidores dos partidos que somaram forças a favor de Eduardo Braide (Podemos) no 2º turno da eleição para a Prefeitura de São Luís. O prefeito montará sua equipe com nomes indicados por essas agremiações? Há sinais afirmativos nessa direção, mas também há movimentos que desmotiva os candidatos a cargos.
Com a definição dos três primeiros secretários – Simão Cirineu (Planejamento), Jesus Azzolini (Fazenda) e Verônica Pires (Projetos Especiais) – Eduardo Braide pode ter avisado que, pelo menos para cargos-chave, fará escolhas baseadas nos seus próprios critérios, sem qualquer influência externa. Poderá abrir espaços para indicações partidárias em pastas importantes, mas sem o peso de áreas como Educação, Saúde, Obras e Cultura, que juntamente com as três já anunciadas formam a base da administração da Capital.
Entre os partidos que foram decisivos no reforço do 2º turno, PDT e MDB foram os mais destacados, colocados, portanto, na linha de frente dos que podem ter participação direta na gestão do prefeito Eduardo Braide. A se confirmar essa tendência, a composição da equipe que atuará a partir do dia 1º de Janeiro de 2021 poderá rascunhar o formato de uma aliança para as próximas eleições.
Roseana pode encarar as urnas em 2022
A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) estaria inclinada a encarar as urnas em 2022. Falta, porém, decidir que mandato pretende disputar. No seu entorno há vozes que defendem com insistência que ela deve se candidatar ao Governo do Estado. Há também quem ache que ela deve disputar o Senado, caso o governador Flávio Dino não seja candidato. E finalmente opção mais defendida no círculo mais próximo da ex-governadora: que seja candidata a deputada federal, acreditando que ela possa ter votação elevada e “puxar” candidatos do MDB. A ex-governadora, que já foi senadora e deputada federal, deve tomar essa decisão com antecedência, para que o partido possa ajustar sua caminhada a essa situação.
São Luís, 20 de Dezembro de 2020.