A briga pelo Senado iniciada em 2014, na qual o candidato do PSB, Roberto Rocha, saiu eleito das urnas, e que ainda estava rendendo no tapetão da Justiça Eleitoral, pode ter acabado ontem. É que o PMDB desistiu da ação em que questionava a lisura da eleição do candidato socialista e que deveria ser julgada em definitivo na próxima terça-feira (13). Por meio dos seus advogados, o partido protocolou, sexta-feira, um pedido de arquivamento da Representação 430, formalizada contra Roberto Rocha sob o argumento que elas estariam contaminadas por irregularidades insanáveis, lastreando a denúncia com uma série de documentos. A iniciativa do PMDB estaria no bojo de um acordo político com o parlamentar do PSB, que envolveria alguns compromissos de alinhamento dele em questões que tramitam no Senado e outros relacionados com a corrida para a Prefeitura de São Luís. A desistência foi revelada pelo ex-deputado federal e ex-ministro do Turismo Gastão Vieira, que disputou a senatória com Roberto Rocha, perdeu e, insatisfeito com o PMDB, deixou o partido e assumiu o comando do PROS no Maranhão.
Ontem, Gastão Vieira postou na sua página no facebook as irregularidades que, segundo ele, colocariam em xeque a prestação de contas de campanha e até mesmo o mandato de Roberto Rocha. A lista é a seguinte, segundo o ex-candidato a senador pelo PMDB: ausência de recibos eleitorais declarados; doações de recursos estimáveis em dinheiro de doadores diversos e que possuem o mesmo endereço; doações de recursos em dinheiro não decorrentes da atividade econômica da empresa; recursos sem comprovação e avaliação do mercado de valor; divergências de valores de doação registrada no recibo eleitoral quando comparado com a prestação de contas; cessão de veículo por doador que não era proprietário do automóvel; e, o que considera mais grave, ausência de declaração de R$ 30 mil.
Em seguida, Gastão Vieira indaga: “Por que o PMDB desistiu a três dias de ser iniciado o julgamento a três dias de ser da Representação?” Acrescenta, em tom bombástico: “Em breve iremos saber!” E em contato com a Coluna, disse que as denúncias seriam suficientes para queimar o mandato de Roberto Rocha e abrir caminho para uma nova eleição para a vaga de senador. Manifestou, finalmente, a convicção de que foi prejudicado pelo PMDB na campanha, e que a desistência de agir contra Roberto Rocha comprova que o PMDB cruzou os braços em relação à sua candidatura senatorial, preferindo agora ter o senador socialista como aliado informal.
Por outro lado, a iniciativa do comando pemedebista de retirar a Representação 430 contra seu mandato, mostra que o senador Roberto Rocha se movimenta na estrada do pragmatismo. Ágil e bem articulado, o jovem senador maranhense opera para construir uma carreira independente, usando os recursos ilimitados das articulações política, abrindo ou reabrindo pontes com adversários para dar concretude a projetos ousados, entre eles o de disputar o Governo do Estado, se for o caso, com o apoio do PMDB. Certamente avalia que a legenda pemedebista dificilmente terá um candidato competitivo para enfrentar o projeto de reeleição do governador Flávio Dino (PCdoB), com quem está praticamente rompido.
Roberto Rocha investe todos os seus cartuchos na consolidação de uma carreira-solo, ao longo da qual suas decisões não estejam atreladas à conveniência de terceiros, como, por exemplo, ao governador Flávio Dino – pelo menos por enquanto. E os acordos de gaveta com o PMDB são parte importante desse roteiro que ainda vai dar muito que falar principalmente depois da grita feita por Gastão Vieira, que tem motivos de sobra para reagir como reagiu, agora também contra o PMDB.
Em tempo: não surpreende se o senador Roberto Rocha abriu e está usando um canal de entendimento com o PMDB. Afinal, foi no Grupo Sarney que ele se fez político, seguindo os passos do pai, o ex-governador Luiz Rocha, que foi, na maior parte da sua trajetória política, uma das maiores estrelas do sarneysismo, junto com os senadores Alexandre Costa, João Castelo, Edison Lobão e João Alberto. Foi para a oposição movido por circunstância, mas os registros mostram que, se nesse período não quis conversa com a cúpula do Grupo Sarney, também não se comportou como opositor ferrenho e agressivo. Deve ter aprendido com o pai, que foi uma das mais hábeis raposas políticas do seu tempo, que nesse ramo de atividade não se deve fechar todas as janelas. Não se espera que Roberto Rocha volte ao seio do sarneysismo, mas ativar canais eventuais com o grupo é prova de que está chegando à maioridade política.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Guerra à vista
Uma disputa poderá sacudir fortemente o PMDB do Maranhão nos próximos meses. A seguinte: em guerra aberta com a direção estadual do PMDB, o ex-deputado Ricardo Murad estaria preparando-se para lançar sua filha, a deputada estadual Andrea Murad, candidata a presidente do partido, contra o senador João Alberto, em convenção estadual a ser realizada em fevereiro ou março do ano que vem. Ricardo Murad já tentou várias vezes colocar a mão no leme pemedebista, mas em todas as tentativas encontrou pela frente o “chega-pra-lá” do experiente e implacável senador João Alberto, responsável pela organização e pela unidade que o partido vem sustentando há duas décadas, sempre como o maior partido do Maranhão, posição que ainda mantém. O argumento a ser usado por Murad é o de que o PMDB precisa se renovar, se reciclar, e que a deputada Andrea Murad pode comandar esse processo com a sua jovialidade. O problema é que quem o conhece sabe que, se eleita presidente do PMDB, Andrea Murad seria presidente formal, e que o comando de fato seria de Ricardo Murad. Há quem diga que o projeto de Murad contaria com o aval da ex-governadora Roseana Sarney, mas não teria a simpatia do presidente José Sarney.
São Luís, 03 de Outubro de 2015.