A presença do prefeito Eduardo Braide (PSD) fez do debate de ontem, na TV Mirante, o melhor de todos os realizados durante a campanha para a Prefeitura de São Luís. Como esperado, o prefeito foi o alvo preferencial dos sete outros concorrentes, e apesar do tom ocasionalmente agressivo de alguns deles – Duarte Jr. (PSB), Yglésio Moises (PRTB) e Wellington do Curso (Novo), por exemplo – saiu ileso do ponto de vista ético e, muito provavelmente, foi dormir na condição de favorito. Isso porque, em que pese o esforço dos adversários em tentativas de macular a sua gestão, nenhuma acusação, denúncia ou ataques puro e simples conseguiu tirar o prefeito do eixo. Ao mesmo tempo, visando criar condições para provocar a realização de dois turnos, Duarte Jr. foi de longe o mais propositivo dos concorrentes do prefeito, tendo sido também o que mais o provocou para o enfrentamento.
Foram mais de duas horas do que se pode definir como um debate civilizado. Houve provocações, algumas situações mais agressivas – sempre de algum candidato em relação ao prefeito – e troca leves de acusações. Mas não houve nenhum momento de tensão que exigisse, por exemplo, a intervenção do mediador, jornalista Paulo Renato Soares, da Rede Globo – aliás, vale dizer que, por conta do bom comportamento dos candidatos, o apresentador não precisou sair uma linha do seu script, o que tornou sua tarefa tranquila. E assim o debate foi dominado pelos temas saúde, educação e infraestrutura, com leves pinceladas sobre turismo, por exemplo, sem dar à cidade a dimensão histórica que ela tem. E como não poderia deixar de ser, corrupção, mais na forma conceitual do que baseada em fato concreto, apesar do desafio que o prefeito fez aos adversários no sentido de que apresentassem provas de que haja algo errado na sua gestão.
No geral, o prefeito Eduardo Braide foi ele mesmo durante todo o debate. Falou das conquistas da sua gestão, do saneamento financeiro da Prefeitura, da bolada que tem em caixa, das obras estruturantes que tem programadas, e fazendo uma promessa ousada se for reeleito: “São Luís terá os melhores quatro anos da sua história”. Ao mesmo tempo, rebateu, um a um, os ataques dos adversários, hora com a mais pura serenidade, ora com alguma irritação e ora com dureza, mas sem fugir do seu padrão de comportamento. Em nenhum momento foi agressivo e provocou seus adversários a provar as insinuações que dispararam contra ele em matéria de ética. Nenhum foi além da insinuação.
Duarte Jr. cumpriu à risca o seu papel de candidato que está isolado no segundo lugar e que precisava convencer o eleitor da necessidade de um segundo turno. Reafirmou todas as suas promessas de campanha, repetiu os ataques, entre eles o de que o prefeito de São Luís está sendo investigado pela Polícia Federal, sem, no entanto, dizer como nem porquê. Repetiu que, se eleito for, governará em parcerias com a iniciativa privada, o Governo do Estado e do Governo Federal, citando o presidente Lula da Silva (PT) como seu parceiro. Foi, de longe, o maior provocador. O socialista esforçou-se para fazer o embate direto com o prefeito Eduardo Braide, e saiu do confronto como o candidato com as melhores condições de pedir ao eleitorado a realização de dois turnos em São Luís.
Única mulher na disputa, Flávia Alves (Solidariedade) repetiu o que dissera em outros debates, na maioria das vezes usando as mesmas frases, o que tirou um pouco o brilho da sua participação, sem, no entanto, comprometer a sua condição de candidata com os pés no chão. O mesmo aconteceu com Fábio Câmara (PDT), que vendendo simpatia repisou o discurso de campanha, ainda que acrescentando alguns dados novos do que seria o seu plano de Governo. Franklin Douglas (PSOL) e Saulo Arcangeli (PSTU) também repetiram quase que fielmente os seus roteiros de campanha, que é focado no plebiscito por meio do qual o eleitorado decidirá de a maioria concorda ou não com a implantação do passe livre para estruturantes no sistema de transporte de passa da Capital.
O debate na TV Mirante confirmou que Eduardo Braide é o favorito para vencer em turno único e o esforço que todos os seus oponentes fizerem no debate foi apelar ao eleitorado que leve a eleição para uma segunda rodada.
PONTO & CONTRAPONTO
Citação da cadela de Duarte Jr. motivou candidatos a elogiarem seus vices
Os candidatos a vice-prefeito de São Luís por pouco não foram esquecidos pelos cabeças de chapa no debate de ontem na TV Mirante. Numa situação de fina ironia, coube à famosa cadela “Judite”, pertencente ao candidato Duarte Jr. colocar o tema no embate entre os candidatos.
Explica-se: numa estocada a Duarte Jr., Flávia Alves observou, em tom de ironia, que “Judite” tinha mais participação na campanha dele do que a candidata a vice da sua chapa Creuzamar Pinho (PT). O candidato socialista desviou a saia justa fazendo elogios à sua companheira de chapa, dizendo que ela é muito mais do que uma figuração, numa clara alusão provocadora à vice-prefeita e candidata à reeleição Esmênia Miranda (PSD).
O prefeito Eduardo Braide reagiu fazendo rasgados elogios à vice-prefeita. E Flávia Alves aproveitou para elogiar as candidatas femininas à vaga de vice. Na sequência, a maioria dos candidatos encontrou uma brecha para elogiar seus vices.
Wellington levou o tema corrupção para o debate e Braide reagiu duro
Um dos momentos mais tensos da campanha aconteceu quando Wellington do Curso relacionou o que seriam escândalos de desvio na Prefeitura: os casos da “merenda escolar”, “máfia do bandeco”, “contratos de emergência” e o caso do Clio vermelho e sua carga milionária. Eduardo Braide reagiu duro e pediu ao Ministério Público que investigue para onde foram R$ 2 milhões em emendas recebidos por Wellington do Curso, que em seguida foi mais cauteloso.
São Luís, 04 de Outubro de 2024.