“Hoje eu sou convicto de que a unidade é o melhor caminho”. Feita pelo governador Carlos Brandão (PSB) numa conversa com os novos dirigentes da Famem, na noite de quarta-feira (15), no Palácio dos Leões, tendo ao lado o vice-governador Felipe Camarão (PT), a declaração caiu como um balde de água fria sobre grupos que ainda operam para alimentar a crise que vem ameaçando a base governista. Aplaudida pelos presentes, entre eles o novo presidente da Famem, Roberto Costa (MDB), e a presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB), ambos defensores da unidade, a manifestação do governador foi interpretada como um gesto expressivo no sentido de que ele está disposto a recolocar a aliança partidária nos trilhos no que diz respeito à sua sucessão.

Numa interpretação mais aberta e fiel ao que foi dito e repetido ao longo da corrida eleitoral de 2022, quando Carlos Brandão avançava na bem-sucedida corrida pela reeleição, o que aconteceu em turno único, e o então ex-governador Flávio Dino estava embalado para uma eleição que o tornou o candidato a senador mais votado da História, a manifestação do governador retorna àquele eixo. Naquele momento, o que políticos, jornalistas e até mesmo o eleitorado entenderam foi que havia entre os dois líderes o consenso segundo o qual o vice-governador Felipe Camarão seria a bola da vez, com o apoio de ambos, em 2026. Se houve ou não um acerto formal sobre esse roteiro, só os dois sabem, mas o fato nítido e indiscutível foi que a equação Brandão + Dino = Camarão ficou no quadro e ninguém a apagou.

A política, no entanto, tem os seus caprichos, que às vezes até desmancham consensos construídos a duras penas. E um exemplo disso foram as pequenas divergências, os bate-pronto de interesses nas acomodações nas malhas do poder e avaliações precipitadas sobre o porvir que aos poucos foram estremecendo as relações de dinistas e brandonistas, colocando os dois líderes em posição de confronto. Vieram as declarações ácidas e fora de contexto, as provocações na seara parlamentar, os confrontos judiciais perigosos e um afastamento injustificado, que por muito pouco não levou a um rompimento traumático.

Ao longo de 2024, a intensa troca de farpas chegou ao ponto de a relação entre os dois lados caracterizou fortemente uma relação de situação e oposição. O ponto culminante desse bateu-levou foi a eleição da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, quando o plenário rachou ao meio na votação para presidente, entre a presidente Iracema Vale e o deputado Othelino Neto (Solidariedade), dando um impressionante empate, de modo que a eleição da presidente Iracema Vale para novo mandato se deu pelo critério da maior idade, previsto no Regimento da Casa. O critério foi questionado na Suprema Corte e esse questionamento colocou os dois grupos em pé de guerra ao longo de semanas.

O clima de virada do ano trouxe mensagens de paz, a começar pela deputada-presidente Iracema Vale, que fez um discurso pedindo paz, o governador Carlos Brandão também sinalizou, tendo o mesmo sido feito pelo vice-governador Felipe Camarão, e pelo secretário Orleans Brandão (MDB), homem forte da articulação política do Governo Brandão, além de apelos feitos por várias vozes, entre elas a da senadora Eliziane Gama (PSD). Esse novo ambiente foi em parte, motivado pela mobilização em torno do prefeito de Bacabal, Roberto Costa, para a presidência da Famem, e pelos sinais emitidos pelo eleitorado de São Luís com a impactante reeleição do prefeito Eduardo Braide (PSD). O “desarmamento” das duas bandas ganhou forma nos últimos dias, quando ficou claro que ninguém ganhará com um racha na aliança governista.

Político experiente e que tem noção clara do custo de um rompimento político, o governador Carlos Brandão avaliou que ninguém ganha com um rompimento. O sinal que emitiu na conversa com prefeitos foi o de quem está disposto a recompor a aliança que tem força para levar Felipe Camarão ao Governo e ele próprio ao Senado, que é o caminho natural de um mandatário que fez a sua parte.  

PONTO & CONTRAPONTO

Pacificação na base governista pode isolar oposição

Os esforços dos dois lados da aliança governista no sentido de recompor a unidade, agora pregada inclusive pelo governador Carlos Brandão (PSB), não levarão à recomposição integral da base governista.

O ponto da discórdia será o deputado Othelino Neto (Solidariedade), que assumiu a condição de principal opositor do governador na Assembleia Legislativa. Em meio às manifestações pela reunificação da base, Othelino Neto já avisou que está fora desse esforço e que seu caminho será manter oposição cerrada ao governador Carlos Brandão.

O problema de Othelino Neto é o risco de isolamento, já que o virtual encerramento da crise na base governista pode levar ao grupo dinista a uma reaproximação com o Palácio dos Leões.

As próximas semanas indicarão o desfecho dessa situação.

Luanna Rezende pode tentar vaga na AL e reduzir espaço de Andreia Rezende em Vitorino Freire

Não será surpresa se a ex-prefeita de Vitorino Freire, Luanna Rezende (UB) vier a se candidatar à Assembleia Legislativa, abrindo um novo confronto familiar, já que no caso ela disputará o eleitorado de vitorinense com a deputada Andreia Rezende (PSB), mulher do ex-deputado Stênio Rezende (PSB), seu tio.

De acordo com uma fonte daquele município, o projeto de lançar Luanna Rezende teria o aval incondicional do ministro Juscelino Filho (Comunicações), que deverá formar dobradinha com a irmã na sua corrida à renovação do mandato para a Câmara Federal.

A provável candidatura da ex-prefeita de Vitorino Freire seria desdobramento natural da guerra familiar pelo controle político de Vitorino Freire, na qual os irmãos Juscelino Filho e Luanna Rezende esmagaram nas urnas o casal Stênio Rezende e Andreia Rezende.

E a julgar pelo desfecho da eleição, na qual os irmãos elegeram o prefeito Fogoió (UB), é muito provável que Luanna Rezende, se candidata for, entre forte e reduza expressivamente o poder de fogo de Andreia Rezende em Vitorino Freire e adjacências.  

São Luís, 17 de Janeiro de 2025.