Eleições gerais são como um jogo que termina com ganhos e perdas. Vitória nesse jogo tem diferentes aspectos e alcance, começando pela eleição do candidato, a vitória do seu partido político e a vibração de seus apoiadores. Derrota se dá no mesmo padrão de variação, iniciando com a não eleição do candidato, a derrota do seu campo partidário e os diferentes graus de frustração dos seus apoiadores. Vitória pode significar o primeiro passo de uma trajetória, podendo também ser a consolidação e a continuidade de um projeto de poder. Derrota pode significar um tombo eventual, podendo também representar um desastre com perdas políticas irrecuperáveis. As históricas eleições de Domingo (2) no Maranhão produziram essas duas realidades antagônicas. Algumas delas:
Para cima
+ A vitória integral da aliança liderada pelo ex-governador Flávio Dino (PSB), com a sua própria eleição para o Senado, a reeleição, em turno único, do governador Carlos Brandão (PSB), com a eleição de oito aliados para a Câmara Federal e para mais da metade da composição da Assembleia Legislativa.
+ Ao sair das urnas reeleito e com a segunda maior votação na sua esfera, o deputado Othelino Neto (PCdoB) consolidou sua posição no cenário estadual, mais fortalecida ainda com a eleição da sua mulher, a vice-prefeita de Pinheiro Ana Paula Lobato (PSB), para a primeira suplência na chapa do agora senador eleito Flávio Dino.
+ O desembarque de Lahesio Bonfim, ex-prefeito do minúsculo município de São Pedro dos Crentes, na corrida ao Governo do Estado quase que como um pária partidário, mas que atropelou obstáculos e se tornou a grande novidade da disputa, ficando em segundo lugar com 25% dos votos. Saiu da corrida várias vezes maior do que entrou.
+ Em meio às fortes controvérsias que o cerca, entre elas cabeludas suspeitas de corrupção, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, chefe maior do PL no estado, saiu das urnas como “o cara”: se reelegeu com 158,7 mil votos – 40 mil a menos do que sua votação em 2018 -, mas elegeu para a Câmara Federal a deputada estadual Detinha (PL), sua mulher, a quem deu o título de campeã de votos nessa corrida, com 161,2 mil votos.
+ O prefeito de Caxias, Fábio Gentil (Republicanos), que mais uma vez demonstrou ser um líder político forte ao responder pela eleição da filha, Amanda Gentil (Progressistas), para a Câmara Federal, e pela reeleição da deputada estadual Daniella (PSB), sua nova consorte.
+ Politicamente fraco, tendo sido reeleito em 2020 com apenas 25% dos votos, o prefeito de Imperatriz, Assis Ramos usou a inteligência e deu o chamado “pulo do gato”, ao eleger sua mulher, para a Assembleia Legislativa, o que garantirá sua permanência na seara política depois de 2024.
+ O surpreendente desempenho do deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil), reeleito como o segundo mais votado, 159,7 mil votos, quase 1.500 votos a mais do que o ex-campeão Josimar de Maranhãozinho.
+ As 12 mulheres eleitas para a Assembleia Legislativa: Iracema Vale (PSB), Fabiana Vilar (PL), Ana do Gás (PCdoB), Claudia Coutinho (PDT), Janaína Ramos (Republicanos), Solange Almeida (PL), Mical Damasceno (PSD), Dra. Viviane (PDT), Andreia Resende (PSB), Daniella (PSB), Abigail (PL) e Edna Silva (Patriota). Um marco expressivo na história do parlamento estadual.
+ O indiscutível nível de excelência do braço da Justiça Eleitoral no Maranhão, comandado pela desembargadora Ângela Salazar. Nada no gigantesco território maranhense foi obstáculo para que mais de quatro milhões de maranhenses votassem sem problemas. Valeu.
Para baixo
– A dura derrota do senador Weverton Rocha na disputa para o Governo do Estado, que colocou em xeque o seu futuro, tornando-o dependente da reeleição para o Senado em 2026. O resultado fragilizou a sua condição de líder do braço do PDT no Maranhão, uma vez que sob seu comando o partido vem definhando a cada eleição.
– Poucas vezes se assistiu a um fiasco político e eleitoral maior do que o desempenho de Edivaldo Holanda Jr. (PSD), ex-prefeito de São Luís, na corrida ao Palácio dos Leões. Foram tantos os seus erros – a começar pela candidatura sem qualquer base -, que ele começou pontuando na fronteira entre os patamares de um e dois dígitos e saiu das urnas com míseros 2% dos votos. Está fora da Prefeitura de São Luís em 2024, a menos que queira ser trucidado pelo prefeito Eduardo Braide (sem partido).
– Não bastasse o desastre que foi a candidatura do ex-prefeito Edivaldo Holanda Jr. ao Governo do Estado, o PSD viu o seu o presidente, deputado federal Edilázio Jr. ser mandado para a casa, desbancado pelo eleitorado e pelo colega de partido, o reeleito deputado federal Josivaldo JP, que, se quiser, poderá até mesmo assumir o comando do partido no estado
– A senadora Eliziane Gama (Cidadania) tem pouco a comemorar em relação ao que saiu das urnas. Seu partido foi um desastre, o seu marido, Inácio Mello, candidato a deputado estadual (PSDB) no estado, e o seu irmão, Eliel Gama, não se elegeu para a Câmara Federal. Ela precisará de um tempo para assimilar a pancada.
– A não reeleição do deputado estadual Adriano Sarney (PV) representou um duro golpe para a família Sarney. Mesmo tendo garantido sua permanência da política com a eleição da ex-governadora Roseana Sarney (MDB) para a Câmara Federal, a derrota de Adriano Sarney representa a não continuidade do processo de sobrevivência da família no cenário político estadual.
– A derrota do Grupo Leitoa em Timon, com a não eleição do ex-deputado federal e ex-prefeito Luciano Leitoa (PDT) para a Assembleia Legislativa, amargando ainda a reeleição do deputado Rafael (Leitoa), de quem se tornaram inimigos por conta de intrigas, e que se torna agora o principal líder político de Timon.
– O surpreendente baixo desempenho eleitoral do empresário e ex-suplente de senador Lobão Filho (MDB) na disputa para a Câmara Federal. Quando ele se candidatou, criou a expectativa de que resgataria pelo menos parte do prestígio político do pai, Edison Lobão, um craque que foi deputado federal, governador, senador, presidente do Senado e ministro de Minas e Energia.
– A não reeleição do deputado estadual Marco Aurélio (PSB), um político sério, correto, propositivo e leal ao seu grupo e aos seus princípios, cultivados na lida como professor. Perderam Imperatriz, o Maranhão e a Assembleia Legislativa.
– Se foi ou não um movimento articulado, o fato é que a face política da Polícia Militar sofreu uma grande derrota nas urnas, não conseguindo eleger nenhum dos coronéis, majores, capitães, tenentes, sargentos cabos e soldados que participaram da corrida para a Assembleia Legislativa e para a Câmara Federal.
– O fiasco dos Coletivos que tentaram cadeiras no parlamento estadual e na bancada federal.
– O pífio desempenho de Simplício Araújo (SD), ex-secretário de Indústria, Comércio e Energia no Governo Flávio Dino. Talvez agora ele tenha chegado à conclusão de que sua candidatura foi um erro político monumental.
PONTO & CONTRAPONTO
Largada para a corrida do 2º turno entre Lula e Bolsonaro
O grupo articulado pelo senador eleito Flávio Dino (PSB) e liderado pelo governador reeleito Carlos Brandão (PSB) decidiu não perder um só dia de campanha para ampliar o cacife eleitoral do ex-presidente Lula da Silva (PT) na disputa com o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Maranhão. Ontem mesmo, na ressaca do agitado dia de votação e apuração, os dois líderes convocaram a militância para dar a largada na campanha do 2º turno, com a realização, no final da tarde, de uma caminhada que começou na Praça João Lisboa, seguiu pela Rua Grande e terminou com um rápido comício na Praça Deodoro.
Flávio Dino, Carlos Brandão e Felipe Camarão pediram o máximo de empenho dos militantes pró-Lula da Silva, para que o líder petista saia das urnas com 80% dos votos do Maranhão, deixando ao penas 20% para o presidente. Na sua fala, o governador reeleito Carlos Brandão turbinou a militância: “Não tem mais 40, porque agora Brandão, Dino e Camarão são 13”.
A projeto é percorrer todo o Maranhão com a mensagem de Lula contra Bolsonaro.
Bolsonaristas preparam carretas e motociata para o 2º turno
Não houve ontem sinais públicos de retomada da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Maranhão. Correu nos bastidores que houve algumas reuniões nesse sentido, realizadas por pequenos grupos de apoiadores do presidente. Segundo um deles, estão previstas carretas e motociatas em São Luís nos próximos dias, e também para cidades de grande porte, a começar por Imperatriz, onde o presidente morou e foi agredido na semana que passou. O certo mesmo é que não ficarão de braços cruzados.
São Luís, 04 de Outubro de 2022.
gosto de ler suas análises… bem coerentes e responsáveis!
leio sempre… Um blogue sério!
forte abraço Ribamar Correa