Depois de cansar-se de jogar no tabuleiro da sucessão maranhense e tomar uma boa dose de juízo político, a ex-governadora Roseana Sarney, presidente regional do MDB, retomou o seu projeto eleitoral inicial confirmando que vai mesmo disputar uma cadeira na Câmara Federal, e não o Governo do Estado. A informação foi dada ontem, em tom formal, pelo deputado Roberto Costa, vice-presidente regional do MDB, em pronunciamento na Assembleia Legislativa, e por ela própria em conversa com amigos e aliados. Com a decisão, o MDB, sob seu comando, não disputará as eleições majoritárias, já que também não terá candidato ao Senado, e vai investir todo o seu peso político e prestígio eleitoral para eleger deputados federais e deputados estaduais. E num plano mais aberto, a decisão de Roseana Sarney ajusta o quadro de pré-candidatos ao Palácio dos Leões, nele permanecendo, por enquanto, o vice-governador Carlos Brandão (PSDB a caminho do PSB), o senador Weverton Rocha (PDT), o ex-prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PSD), o prefeito Lahesio Bonfim (Agir36), e, de uma maneira furta-cor, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL).
Roseana Sarney jogou o tempo que pôde como pré-candidata ao Governo do Estado, embalada pelas pesquisas que a apontaram na liderança da corrida, levando muitos dos aliados a acreditarem que ela, de fato, poderia ser candidata. Esse entusiasmo foi mantido por meses, fazendo com que a ex-governadora saísse um pouco da realidade, provavelmente ela própria, em algum momento, acreditando que tinha condições políticas e eleitorais de voltar ao comando do Estado, que ela governou por mais de uma década. Sob o generoso pacote de intenções de votos, as pesquisas trouxeram um contrapeso amargo: um elevado e fatal percentual de rejeição, consequência natural do desgaste de um grupo político que deu as cartas no Maranhão por mais de 50 anos.
Sem lastro para disputar o Governo ou o Senado, Roseana Sarney tem agora duas missões politicamente importantes pela frente. A primeira é mobilizar e incentivar as forças que formam o MDB, para que o partido saia das urnas com uma minibancada de deputados federais, incluindo ela própria como “puxadora de voto”, e uma bancada expressiva de deputados estaduais, para manter de pé o partido frente ao próximo Governo. Sua candidatura a deputada federal é a soma de três fatores: a vontade de sair da zona de esquecimento e retornar à ribalta da política, a possibilidade de obter uma grande votação e, desse modo, ajudar o partido a eleger mais deputados federais, e, assim, fortalecer a estratégia nacional do MDB, que pretende chegar à Câmara Federal com uma bancada numerosa e politicamente expressiva.
A outra missão da ex-governadora como chefe partidária é situar o MDB no contexto da disputa majoritária estadual. No que diz respeito à “guerra” pelos Leões, parte do MDB já esteve inclinada a apoiar a candidatura do senador Weverton Rocha, mas todos os indícios mais recentes são de que, com o seu aval, o MDB irá para as urnas alinhado à candidatura do vice-governador Carlos Brandão. O vice-governador tem conversado com as mais diversas vozes sarneysistas e, pelo que sopram os bastidores, esse entendimento já estaria fechado. Em relação à única vaga para o Senado, que poderia disputar correndo sério risco de não chegar lá, a ex-governadora decidiu, de acordo com o comando partidário, não lançar candidato e liberar suas bases para votar no governador Flávio Dino (PSB).
E ao que tudo indica, Roseana Sarney decidiu que chegou a hora de colocar o MDB nos trilhos.
Em Tempo: a decisão da ex-governadora Roseana Sarney de disputar a Câmara Federal foi revelada pela Coluna, em primeira mão, no início do ano passado.
PONTO & CONTRAPONTO
Além do aval do PT, Brandão terá o apoio de Alckmin
É cada vez mais forte a ligação do vice-governador Carlos Brandão (PSDB a caminho do PSB) com o PT para consolidar a aliança no Maranhão. Não bastasse o aval unânime dos comandos estadual e nacional ao apoio do PT à sua candidatura, Carlos Brandão deve ganhar um forte aliado na seara petista: o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Explica-se: ambos tiveram boa convivência quando Carlos Brandão foi deputado federal e Geraldo Alckmin governador de São Paulo. Essa convivência levou o então governador de São Paulo a chancelar a aliança do PSDB com o PCdoB em 2014, quando os tucanos indicaram Carlos Brandão para vice de Flávio Dino. A relação de Carlos Brandão com Geraldo Alckmin deverá se estreitar quando os dois desembarquem oficialmente no PSB, o que deverá acontecer nos próximos dias.
Aprovação do União Brasil abre debate sobre comando da sigla no Maranhão
A aprovação, ontem, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da fusão do PSL com o DEM, dando origem ao União Brasil, deve provocar algumas mudanças na estrutura original desse partido no Maranhão. Para começar, o comando regional deverá ficar com o atual presidente do PSL, deputado federal Pedro Lucas Fernandes, que sai por cima depois de ter sido praticamente expulso do PTB. Ao chefe do DEM, deputado federal Juscelino Filho, será dado um cargo na Executiva nacional, fazendo com que ele fique sem um partido para chamar de seu, como quando tinha o comando do DEM. Além disso, a abertura, em março, da janela para a mudança de partido, vários deputados poderão fazer movimentos de entrada e de saída do novo partido, como é o caso dos deputados estaduais Daniela Tema, do DEM, que estuda permanecer no União Brasil ou migrar para outra agremiação, que pode ser o PSB, liderado pelo governador Flávio Dino. Já os deputados estaduais Paulo Neto e Andrea Rezende poderão permanecer no União Brasil, podendo também migrar. Parte desse movimento será definido nas próximas semanas.
São Luís, 09 de Fevereiro de 2022.