Anunciada como o primeiro grande passo do Grupo Sarney para as eleições gerais de 2018, a reunião de sexta-feira em São Luís se resumiu ao pré-lançamento da candidatura do deputado federal e atual ministro do Meio Ambiente Sarney Filho (PV) para uma das cadeiras do Senado da República. Foi um ato festivo, com alguma expressão política, que contou com a presença da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) e do senador Joao Alberto (PMDB) – o senador Edison Lobão ainda convalesce de uma queda em que fraturou a clavícula -, alguns deputados federais e estaduais, prefeitos, ex-prefeitos e vereadores. Sarney Filho, claro, encheu-se de gás e consolidou a primeira etapa do seu projeto demarcando espaço majoritário no campo sarneysista. E também e ouvindo a irmã afirmar, num discurso contundente, que no Grupo não há ninguém mais qualificado do que ele para ser senador, e ainda avisar que a sua luta e o seu trabalho “serão para elegê-lo”. Outras manifestações reforçaram o projeto, como a do senador João Alberto, que além de elogiar o ministro, declarou que está disposto a abrir mão da candidatura à reeleição para apoiá-lo. No mais, nenhuma palavra sobre candidatura a governador e à outra vaga de senador, que significa dizer que o Grupo Sarney está enfrentando sérios problemas internos para montar uma chapa majoritária para 2018.
Alguns sinais das dificuldades foram emitidos nas manifestações de ontem. Ao afirmar que o seu trabalho e a sua luta serão para eleger o irmão senador, a ex-governadora Roseana Sarney limitou sua participação na corrida eleitoral do ano que vem, à medida que, com essa afirmação, ela pode ter pretendido deixar claro que não está interessada em ser o contrapeso do governador Flávio Dino (PCdoB) na corrida ao Palácio dos Leões. Se foi essa a sua intenção, Roseana confirmou, assim, os rumores correntes nos bastidores de que não quer ser candidata, mas enfrenta fortes pressões para sê-lo, o que lhe impõe o incômodo dilema sheksperiano do “ser ou não ser”. Na sua fala, ela não emitiu qualquer sinal de que será candidata, como também nada disse que descartasse definitivamente essa hipótese, prevalecendo, portanto, a impressão de que a ex-governadora não simpatiza mesmo com o projeto de entrar na briga pelos Leões, mas vive um dilema cruel.
O problema é que o Grupo Sarney não conta com nenhum nome viável para enfrentar o governador Flávio Dino nas urnas além de Roseana Sarney. Mais do que isso, todas as pesquisas publicadas até agora – e até algumas feitas para consumo dos contratantes – apontam o governador como favorito e a ex-governadora em segundo lugar. O fato é que, até aqui, o cenário não é favorável ao Grupo Sarney nas previsões da disputa pelo comando político e administrativo do Maranhão. A julgar pelo cenário de agora, Roseana Sarney sabe que, se decidir entrar na guerra, o fará contando com o imponderável e correndo o risco de sofrer uma derrota que encerrará definitivamente a sua carreira. Além de Roseana, o Grupo Sarney dispõe de nomes politicamente fortes, como o senador João Alberto e o suplente de senador Lobão Filho, por exemplo, mas nenhum está disposto a encarar a enfrentar o governador, que está no melhor da sua carreira, vive um momento de consolidação com um dos líderes destacados da esquerda democrática no País, e conta com uma base de militantes que estão com faca nos dentes para a guerra eleitoral.
Muitos interpretaram o lançamento do ministro Sarney Filho ao Senado como o projeto maior da família do ex-presidente José Sarney (PMDB). Pode ser, porque na mesa de decisões consta também a avaliação segundo a qual será imprevisível a reação do eleitorado se Roseana Sarney for candidata ao Governo com o irmão candidato ao Senado. A tendência é a de que os eleitores façam a escolha por um ou por nenhum, sendo quase certo que não embalará os dois. E como Sarney Filho saiu na frente, tem um bom cacife político, uma carreira bem sucedida e sem mácula e traz na bagagem um histórico de “ vítima de atropelamentos”, o que lhe dá autoridade para dizer que “agora a vez é minha”, é muito provável que o Grupo lance um nome para o Governo e concentre seus esforços na eleição do ministro como o seu projeto maior. E se for Roseana Sarney, o esforço será dobrado para eleger os dois.
O ato de sexta-feira foi uma prova de que Sarney Filho jogou bem dentro do Grupo ao antecipar o lançamento da sua candidatura, não deixando qualquer margem de manobra para lhe tirarem da corrida senatorial.
PONTO & CONTRAPONTO
Segunda vaga de candidato a senador vai ficar com quem?
Se por um lado o lançamento da candidatura de Sarney Filho ao Senado resolveu uma situação dentro do Grupo Sarney, por outro pode ter dado forma a um problema, que exigirá muita costura para ser resolvido. O seguinte: com quem ficará a outra vaga de candidato a senador pelo Grupo. Mesmo enfrentando um caminhão de problemas com a Operação Lava Jato, o senador Edison Lobão tem dito enfaticamente a interlocutores que será candidato à reeleição. O seu suplente, Lobão Filho (PMDB), tem dito e repetido, em recados diretos ao Grupo e a adversários, que a “família Lobão” não abre mão da vaga de candidato a senador, podendo o indicado ser o pai para concorrer à reeleição, ou ele próprio. A outra possibilidade seria a candidatura do senador João Alberto à reeleição, mas não parece muito animado e tem dito a amigos e a familiares que hoje, aos 81 anos e com quase meio século de mandatos, cansou da maratona São Luís-Brasília, estado de ânimo que confirmou sexta-feira ao declarar que está disposto a abrir mão da candidatura para apoiar a Sarney Filho. Nas conversas de bastidor, João Alberto é lembrado também para ser o candidato do Grupo a governador, se Roseana não entrar, ou a vice-governador, na hipótese da ex-governadora topar medir forças com Flávio Dino. Todas essas possibilidades estão sendo examinadas com base também na avaliação do potencial político e eleitoral dos concorrentes José Reinaldo Tavares (por enquanto no PSB), Weverton Rocha (PDT), Waldir Maranhão (PP), Eliziane Gama (PPS), todos com bons cacifes e dispostos a jogar pesado para chegar à Câmara Alta, que para muitos é o Olimpo da política nacional.
Roseana e José Reinaldo se reencontram. E daí?
O encontro dos ex-governadores Roseana Sarney e José Reinaldo Tavares “articulado” pela advogada Graziella Neiva, foi casual e, a princípio, pode ser registrado apenas como um gesto de civilidade política dos dois – ela comemorava aniversário (1º) em companhia de amigos, ele almoçava no local junto com o ex-deputado federal Jaime Santana. O fato, marcado por gentilezas – teve até beijinho no rosto -, pode acabar no arquivo morto, mas também pode ter sido a abertura de uma janela para o reencontro de dois líderes nascidos do mesmo do mesmo ninho, o sarneysismo. E aconteceu exatamente num momento em que os dois vivem dramas relacionados com as eleições de 2018. Ela sem saber se será ou não candidata ao Governo do estado, como querem amigos, correligionários e uma boa fatia do eleitorado; ele medindo forças com aliados e sofrendo “fogo amigo” e amargando indefinição partidária nos esforços para consolidar sua candidatura ao Senado. Claro que, em princípio, não se pode levantar a possibilidade de retomada de uma aliança que foi tão forte e sólida, mas como o reencontro se deu em momento e circunstâncias especiais, e como política maranhense “boi voa até de asa quebrada”, a imagem é motivo mais que suficiente para que adversários dos dois fiquem bem atentos. Afinal, como o ex-deputado Lister Caldas, uma das raposas mais ativas da política maranhense nos anos 50 e 60 do século passado, na política do Maranhão “boi voa, até de asa quebrada”.
São Luís, 03 de Junho de 2017.