O presidente Lula da Silva decidiu entrar de cabeça como cabo eleitoral de candidatos petistas e/ou aliados na guerra por comandos municipais. Ele segue uma orientação do PT de apostar fichas em cidades com mais de 100 mil habitantes. No Maranhão, até o momento o presidente da República gravou peças pedindo votos para o deputado federal Duarte Jr., candidato do PSB à Prefeitura de São Luís, que tem o PT como aliado de proa; para o ex-deputado Marco Aurélio (PCdoB), que tenta chegar à Prefeitura de Imperatriz, e para a prefeita de Timon, Dinair Veloso (PDT), que busca a reeleição. Nas peças de campanha favoráveis a esses candidatos, o presidente da República se joga por inteiro na caça ao voto, demonstrando que está, de fato, empenhado no esforço para tornar viável a estratégia petista, que visa dois objetivos: levar petistas e/ou aliados ao comando do maior número possível de prefeituras, e, ao mesmo tempo, conter a o projeto da direita – PL e Cia. – de sair das urnas no controle de pelo pelos 900 municípios.
Trata-se de uma estratégia arrojada, que tem vantagens indiscutíveis, quando o apoio se dá a candidatos que enfrentam adversários da direita, por exemplo. Porém, como tudo em política, principalmente no jogo eleitoral, guarda também margens alentadas de riscos, sendo o principal deles a possibilidade de contrariar frontalmente aliados.
No primeiro caso, a estratégia do PT parece lógica e eficiente em São Luís, onde o partido apoia o deputado federal Duarte Jr., candidato do PSB, seu aliado preferencial, contra o prefeito Eduardo Braide (PSD), um candidato de uma ala mais avançada e mais amena da direita, que foge do bolsonarismo e não mantém qualquer relação com o PT nem com legendas de esquerda. Nas peças que o presidente gravou apoiando Duarte Jr., ele destaca qualidades políticas do parlamentar e agradece enfaticamente o apoio que dele recebe no Congresso Nacional, e deixa no ar o recado segundo o qual se Duarte Jr. for eleito, terá o apoio do Governo Federal. Ao mesmo tempo, num viés também estratégico, o presidente Lula da Silva evita qualquer ataque ao prefeito Eduardo Braide. O apoio de Lula da Silva a Duarte Jr. atinge os candidatos Wellington do Curso (Novo), que representa direita dura, ultraliberal, e Yglésio Moises (PRTB), que levanta a bandeira do bolsonarismo radical. Ao mesmo tempo, não incomoda os candidatos da esquerda radical, Franklin Douglas (PSOL) e Saulo Arcangeli (PSTU).
A participação direta do presidente Lula da Silva na disputa em Imperatriz reúne ingredientes políticos favoráveis, e outros nem tanto. Não há dúvida de que no cenário da metrópole tocantina o seu candidato natural seja o ex-deputado estadual Marco Aurélio (PCdoB/PT/PV), que tem como vice a conhecida militante Vânia do PT. Só que ele está em quinto lugar, segundo pesquisas mais recentes, enquanto o deputado estadual Rildo Amaral (PP), que tem como padrinho o ministro do Esporte, André Fufuca, chefe do partido no Maranhão, está disputando a liderança com o deputado federal Josivaldo JP (PSD), de direita. Para brigar pela liderança, Marco Aurélio terá de tirar do caminho dois braços fortes da direita, a bolsonarista Mariana Carvalho (Republicanos) e o publicitário Nilson Takashi, candidato do Novo. Se o apoio ostensivo do presidente Lula da Silva catapultar Marco Aurélio para a liderança, isso será considerado uma façanha numa cidade com forte viés bolsonarista. E nesse caso, como fica o ministro do Esporte o seu candidato?
O caso de Timon guarda semelhança com o de Imperatriz. Ali, o PT decidiu apoiar a candidatura da prefeita Dinair Veloso (PDT) à reeleição. Só que o candidato adversário é ninguém menos que o deputado Rafael (PSB), apoiado diretamente pelo governador Carlos Brandão, que comanda a legendas socialista no estado. O ingrediente a mais desse jogo é que a prefeita é apoiada pelo senador Weverton Rocha, chefe do PDT no Maranhão e adversário assumido do governador Carlos Brandão, o que torna a equação timonense bem mais complexa. Como ficará a relação do deputado Rafael, lulista fervoroso, se o apoio do presidente Lula da Silva lhe inviabilizar o projeto de se tornar prefeito de Timon?
São situações que só a política pode comportar, mas que colocam em jogo a força do PT e o prestígio do presidente da República.
PONTO & CONTRAPONTO
Dois deputados maranhenses querem o impeachment de Alexandre de Moraes
Dois dos 18 atuais membros da bancada maranhense na Câmara Federal estão entre os 147 parlamentares de direita que assinaram a ação que propõe o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. São eles Allan Garcês (PP) e Aluísio Mendes (Republicanos). A atitude dos dois congressistas não surpreende. Eles são radicais de direita e militam no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o principal incentivador do movimento contra não só o ministro, mas contra o Supremo como um todo.
O médico Allan Garcês é suplente de deputado federal e está no exercício do mandato na vaga aberta com a licença do deputado André Fufuca (PP) para assumir o Ministério do Esporte. Em 2014, 2018 e 2022, Allan Garcês teve na linha de frente da campanha de Jair Bolsonaro no Maranhão, atacando fortemente Flávio Dino, Lula da Silva e seus aliados no Maranhão. Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, ele montou barraca em Brasília, onde tentou conseguir um cargo federal de prestígio na área de saúde. Mas, não se sabe o motivo, foi sistematicamente preterido, e voltou para o Maranhão de mãos abanando. Voltou a Brasília como deputado federal temporário. Nos seus discursos, sempre brada contra as instituições democráticas, com foco preferencial no Poder Judiciário.
O deputado federal Aluísio Mendes não foge a essa regra. Entrou na vida pública com o agente da Polícia Federal, foi ajudante-de-ordem do ex-presidente José Sarney e se revelou competente na área de segurança pública nos últimos governos de Roseana Sarney (MDB), quando assumiu a Secretaria de Segurança e implantou unidades especiais da PM, como o GTA, entre outros. Surpreendendo a muitos, elegeu-se deputado federal em 2014, pelo PRTB, mantendo posição neutra até o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). O seu viés de direita radical se revelou por inteiro com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, do qual se tornou apoiador incondicional, fazendo parte do grupo de deputados policiais ligados ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que, como ele, também é agente da PF. Um sarneysista roxo lamentou a posição de Aluísio Mendes dizendo que “ele esqueceu tudo o que aprendeu com o Zé Sarney”.
O deputado Aluísio Mendes preside o Republicanos no Maranhão.
O documento será apresentado nas manifestações da direita no dia 7 de Setembro.
Buzar lança hoje “Roda Viva: 1972”
O historiador e jornalista Benedito Buzar lança hoje, às 19h, na Academia Maranhense de Letras, da qual é membro destacado, o seu mais novo livro: “Roda Viva: 1972”. Trata-se do resgate da coluna que iniciou em 1968 no Jornal do Dia e manteve até 1972 no jornal O Estado do Maranhão, portanto um registro importante e necessário daquele momento.
Benedito Buzar sempre conseguiu mesclar com perfeição a pesquisa histórica com a investigação jornalísticas, o que tem resultado em obras fundamentais, com o “A Greve de 51”, um dos mais ricos e intensos momentos políticos do Maranhão, e “ O Vitorinismo”, no qual ele remonta a instalação e os desdobramentos do poder avassalador do caudilho paraibano que se tornou, por três décadas, o “senhor absoluto” da política maranhense.
O viés jornalístico na pesquisa de Benedito Buzar se mostra inteiro e pleno, à medida que ele reconstrói a realidade com base nos fatos, na história registrada nos jornais e nas conversas com remanescentes dos tempos investigados. Em “Roda Viva”, mais do que o jornalista e o historiador, ele se faz presente no epicentro dos fatos que narra. E com um dado importante: em 1972 começava o período Médici, o mais brutal da ditadura militar, que, vale lembrar, tirou-lhe o mandato de deputado estadual anos antes.
Uma obra de Benedito Buzar com o título “Roda Viva: 1972” tem tudo para ser leitura obrigatória. Vale conferir.
São Luís, 05 de Setembro de 2024.
Só uma observação: Vitorino era pernambucano.